(luzes, som...)
O tango é muitas vezes uma dança violenta e de contrastes. Quem se compromete a dançá-lo está fatalmente a dar-se ao outro, expondo-se, sem porém anular a sua individualidade!
Expõe-se física e espiritualmente no gesto, no toque, no movimento brusco e repentino, no traje, na luz, na sombra, no som... expõe-se nos olhares fixamente trocados, na paixão da técnica na mágica complementaridade activa e interactiva entre dois seres que ali – ali mesmo – se dão e pertencem um ao outro!
Até nos erros da dança estão obrigados a darem-se e a complementarem-se, sob o risco de perderem o par e terem de recomeçar uma nova dança com outro. Quem dança e saboreia o tango com mestria, sabe que os erros só serão evitados pelo esforço e empenho comuns. Contudo, quando os erros acontecem, por deslize ou falta de treino, os artistas tem que saber disfarçá-los com o recurso engenhoso da técnica – afinal de contas, the show must go on! No tango não existem glórias individuais e a glória trabalha-se!
O tango é, pois, um jogo permanente de pretenças e interacções geradoras de equilíbrios, ajustes e reajustes que para resultar precisa da exposição dos intervenientes, da sua entrega laboriosa, empenhada e atenta na prossecução de um fim glorioso e triunfantemente comum.
Mas será só no tango?
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